marilena // 2017

A cada ensaio que eu faço, eu sinto que sou lembrada do porquê amo tanto fotografar pessoas.
Passar um tempo registrando alguém como ele é, conversando, observando sua vida, seu dia-a-dia, perguntando seus gostos e desgostos, rindo e chorando com essa pessoa não é só um presente, é um privilégio.
É um privilégio porque é um aprendizado. É aprender a enxergar a gente mesmo no outro, a ter empatia que cada um está vivendo o seu processo, é olhar como cada ser humano lida com os percalços e as alegrias da vida e aplicar essas lições na nossa.
Fotografar é uma troca.
Eu dou um pouquinho de como eu enxergo o mundo para a pessoa e ela dá um pouquinho de si para mim.
E com isso a gente vai embora um pouco mais completo.

Foi assim que eu me senti quando conheci a Marilena, essa guerreira. Uma mulher forte, que mesmo quando está debilitada procura energia para cuidar das plantas, cozinhar, praticar seus trabalhos de artesã. Uma pessoa feliz que enfrenta mais um câncer de cabeça erguida. Que não se importa em mostrar as marcas dele, porque elas são parte da pessoa incrível que ela é, mostram as batalhas que ela já venceu. Durante as fotos ela me disse que se ele volta, ela tenta não se lamentar. Ela pergunta quais são os próximos passos, quais são as próximas medidas que ela tem que tomar para lutar. Ela é um ser humano como todo mundo e as vezes nem sempre foi assim, mas em pouco tempo com ela a gente percebe que com as dificuldades da vida ela vai aprendendo que o que funciona mesmo é respirar fundo e correr atrás da sua própria felicidade, da sua cura.  
Porque o que ela quer mesmo é viver.

Em um mundo em que a gente tropeça quase todos os dias e se cansa de cair, é um respiro imenso poder passar um minuto sequer com alguém que tem uma atitude tão positiva. Que consegue enxergar que viver é lutar e que não importa o tamanho da luta. Importa a sua fé, em Deus e em si mesmo. De que você é capaz e que precisa dar tudo de si, fazer a sua parte para que o universo te ajude com o resto.
Obrigada por esse aprendizado, Marilena. Que honra poder partilhar de uma tarde com você na sua casa colorida e acolhedora, conhecer sua família, comer amoras do pé, aprender mais sobre como cuidar de uvas e registrar esse teu sorriso enorme e sincero no rosto :)

Aqui vai um pedacinho de um poema do Drummond que sempre me motiva a andar para frente:

"Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."

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